domingo, 27 de setembro de 2009

Livro Cartografias do Sensível


De que contemporaneidade estamos falando? A despeito dessa pergunta já ter sido tantas vezes feita e tantas vezes respondida, ela ainda permanece necessária para podermos nos aproximar de compreender a nossa posição dentro do tempo. Entretanto, nossos olhos não podem estar voltados para dentro, para o nosso umbigo, para os confins de uma consciência individualizada e individualizante, como se cada sujeito fosse um universo auto-suficiente. Tampouco podemos nos dirigir para o infinito eterno das verdades universais, como se a origem e o fundamento desse termo fossem metafísicos. Nossa atenção deverá estar voltada para uma exterioridade muito próxima, para a contigüidade do mundo. O mundo entendido como coisa viva, vivida, habitada, fabricada, produzida. O mundo tomado como efeito da existência humana. Porque o tempo é coisa do mundo, é coisa que existe e a vida vivida no tempo é, essa sim, coisa dos homens. Vida encarnada nos corpos que fazem o mundo, nos corpos que se experimentam e experimentam tudo o que está sendo, tudo o que poderia ter sido, tudo o que já deixou de ser e tudo que ainda pode vir a ser. E, assim, o tempo significa o tempo da experiência. Desse modo, a contemporaneidade é um sentido que deliberadamente atribuímos à experiência que temos (ou pretendemos ter) do tempo.
Então, tomando cuidado para não escorregar nas armadilhas do idealismo messiânico e nas falsas promessas redentoras, tão freqüentes em alguns pensadores da atualidade, convém que pensemos na contemporaneidade como um efeito que produzimos em nossas vidas ao tomar consciência do destino que damos a elas. Ao escolhermos o mundo, escolhemos a contingência, escolhemos o acidente, escolhemos o risco. E nos condenamos à perpétua tarefa de interpretar, avaliar e julgar cada ato, cada fato, cada passo. E, efeito dos efeitos, tornamos estética a ética. Fazemos invenção e escolha os ditames do destino. Assumimos posição, tomamos decisão e arcamos com a inevitável lucidez de tratar politicamente a vida.
Este livro não é um itinerário, mas uma espécia de “crônica do amor-fati”. É para ser lido como quem segue o rastro de algumas reflexões individuais e coletivas sobre a aventura de experimentar o mundo como destino querido, desejado. Menos que ler, é um livro para experimentar. Bom proveito!

Marcos Villela Pereira, 2009


Fotos do Lançamento do livro "Cartografias do Sensível. Estética e Subjetivação na contemporaneidade", na Livraria Vanguarda, Pelotas, julho/2009:
                Farina, Cynthia e Rodrigues, Carla (orgs.)


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